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BULLYING

15/08/2017 às 11:39 · · Comentários desativados em BULLYING

BULLYING

Entrevista concedida pelo  psicólogo clínico e especialista em Psicologia Jurídica, Leonardo Tenório, ao Blog do projeto “Quebre o Silêncio – Dê voz à sua diferença”  

Equipe Quebre o Silêncio: Sabemos que o bullying e o preconceito podem gerar alguns transtornos psicológicos. Você poderia nos falar um pouco sobre eles e como eles geralmente se iniciam.

Psicólogo Leonardo: O preconceito e a discriminação, eu costume colocar dentro do mesmo mote do bullying, já que ele é uma forma de preconceito e discriminação. Vários transtornos podem ser causados a partir disso.

Existe apenas um detalhe sobre os transtornos psicológicos que devemos conhecer antes de falarmos sobre eles. Todo transtorno tem uma predisposição genética. Já vem no gene aquela predisposição de ter aquele tipo determinado de transtorno. Porém, se formos pensar em termos gerais, todos nós temos alguma predisposição a algum tipo de transtorno.

As pessoas podem desenvolvê-los durante o decorrer do tempo ou não. O bullying ativa um desses transtornos para os quais já temos a predisposição para ativar. Algumas pessoas, por exemplo, nascem com déficit de ceratonina. Essas, provavelmente, terão depressão. Ou elas podem ter o comportamento depressivo, sem que seja um transtorno que pode durar o resto da vida. O episódio depressivo vai durar alguns minutos, dias, horas, ou algum período. Por exemplo, durante a infância ou a adolescência ele pode sofrer bullying e passar por um período depressivo. Ao final de um tratamento ou mudança de ambiente, ele pode sair desse período. Mas, se ele tem uma predisposição genética, existe a possibilidade de carregar isso por toda a vida. Existem outros transtornos como o bipolar, que também é um transtorno de humor, como a depressão, mas ele é marcado por momentos de euforia. Não é só a depressão, aquele momento longo e depressivo. Quando se sai daquele momento, se passa por momentos eufóricos. Podem ser agressivos ou marcados por compulsões.

Equipe Quebre o Silêncio: Como são tratados esses traumas? Geralmente, os tratamentos psicológicos sozinhos têm resultados?

Psicólogo Leonardo: Primeiramente, é preciso do apoio da família para tratamento de traumas. A família precisa estar junto e atenta ao que está acontecendo, e lembrar de sinais que os adolescentes, crianças, ou até adultos sofreram e sofrem por causa do bullying.

O tratamento é feito por dois pilares: a parte medicamentosa, que é feita pela psiquiatria, e a parte da psicoterapia, que é feita por nós, psicólogos. A parte medicamentosa entra para mudar a questão dos sintomas, pois, ela os retira. Então, retirando os sintomas, fica até mais tranquilo para se trabalhar com os transtornos. Porque se a pessoa está depressiva, provavelmente ela não vai querer sair de casa. Se eu tiro esse sintoma da depressão, ela já vai sair de casa, mas ainda vai nutrir o comportamento depressivo. E então, nós, os psicólogos, vamos direto no comportamento, pois, a mudança do comportamento faz com que a melhora aconteça. Mas no caso do bullying, existe também o fator físico. Se o paciente ainda está sendo exposto às questões que causam Bullying, mesmo com tratamento, ainda pode persistir durante vários anos.

Equipe Quebre o Silêncio: Qual a influência de amigos e familiares no processo? Como se dá?

Psicólogo Leonardo: Tem que estar atento às nuances do comportamento. O Bullying é muito sutil. Ele é feito por pessoas que oprimem, na verdade, uma outra pessoa, e que podem ameaçá-la.

Por estar sendo ameaçada, a pessoa que sofre Bullying, não vai querer contar o que está acontecendo com ela. Então, ela vai apresentar algumas questões bem sutis de comportamento. Como, por exemplo, o embotamento. Ela vai se enclausurar, vai evitar falar, pode começar a não querer comer também, e não vai querer ir para a escola, o que é evidente. Vai começar a dar desculpas para não ir à escola, para evitar contato com o opressor. Por isso é sempre importante os amigos e familiares ficarem atentos.

Equipe Quebre o Silêncio: Sabemos que em casos mais graves, alguns pacientes acabam evoluindo para um quadro mais grave, até mesmo casos de suicídio. São comuns os casos assim? Como fazer para identificar?

Psicólogo Leonardo: Vai depender muito do temperamento da pessoa. O suicídio é uma coisa que não acontece sempre, mas acontece com uma certa frequência. Porque o indivíduo sofre uma agressividade que é voltada para dentro de si. Então, se ele está sofrendo Bullying e não sabe como mudar aquela realidade, o fim seria se suicidar, para que tudo acabe. Esse é o pensamento mais comum que uma pessoa que sofre com traumas tem. Ele pensa que o suicídio vai resolver tudo isso, e o Bullying segue essa linha. Ele não pensa que trocando de escolar, por exemplo, a situação pode melhorar. Já quando a agressividade é voltada para fora, o indivíduo costuma ficar mais agressivo. Ele está ali, suportando as chacotas e tudo o que está sendo feito com ele, mas chega um momento em que ele usa da agressividade física mesmo.

Equipe Quebre o Silêncio: Você acha que campanhas e projetos sociais de combate ao preconceito funcionam e são válidos? Você apoia alguma causa? O que tem a dizer sobre elas?

Psicólogo Leonardo: Eu acredito que algumas causas são bastante válidas pela questão da informação. O Bullying existe há anos. Nós sofremos com ele, nossos pais sofreram com ele, todo mundo sofreu. Mas ninguém sabia o que ela aquilo, ninguém conhecia. Hoje, existe muita informação sobre isso. Os projetos e campanhas fazem justamente isso, essa ponte entre o assunto e as pessoas, incentivando-as a aprenderem o que é o Bullying, a saberem que ele existe e a não fazerem o Bullying, que é o mais importante. Nesse sentido, eu acho muito válido, em relação à conscientização da população em geral e dos familiares de pessoas que sofrem com o Bullying.

Equipe Quebre o Silêncio: Você tem um perfil marcante, um estilo e uma personalidade muito fortes. Isso é um fator positivo na sua profissão? Influencia de alguma forma?

Psicólogo Leonardo: Alguns gostam muito. Principalmente os adolescentes, porque se identificam mais, por causa do cabelo e tudo. É até uma forma de ajudá-los a falarem com mais facilidade. Eles se sentem mais em casa, eles percebem que podem contar comigo por me verem como um igual, de uma certa forma. Mas um igual que tem aquele conhecimento a mais naquele momento. E também ajuda na questão dos outros psicólogos. Pelo que eu saiba, só eu aqui em Maceió que tem cabelo grande. Os colegas me conhecem e sabem da minha personalidade e que minhas técnicas são um pouco diferenciadas e até passam clientes para mim por conta do cabelo.

Equipe Quebre o Silêncio: O que você deixaria como recado para nossos leitores?

Psicólogo Leonardo: O principal recado que eu deixaria para as pessoas é: quebre o silêncio. Fale sobre o que está acontecendo com você. Geralmente, essas pessoas se sentem tão oprimidas ao ponto de não conseguir verbalizar o que está acontecendo com elas. O primeiro ponto é falar. O segundo é: não ficar quieto. Então, fale, exponha. Fale com seus familiares e com seus amigos, conte o que está acontecendo com você. Fale!

Fonte: Blog Quebre seu silêncio 

Categories: Destaque, Notícias